Segundo Huizinga (1950), o ato de jogar é "[…] uma atividade livre conscientemente fora da vida “comum” e sendo “ não sério”, mas ao mesmo tempo absorvendo o jogador intensamente e totalmente. É uma atividade que pode não se ter nenhum ganho material e sem fins lucrativos por ela. Ela segue dentro de seus próprios limites de tempo e espaço de acordo com suas regras fixas e ordenadas. Ela promove a formação de grupos sociais que tendem a manter em segredo suas diferenças do mundo comum por disfarce ou outros meios". Visando que este é um termo muito amplo e discutido por diversos autores, o educador e Game Designer Jesper Juul em seu artigo “The Game, the Player, the World: Looking for a Heart of Gameness” (2003) definiu a ideia utilizando seis pontos principais:
1-Regras fixas: todos os jogos são privilegiados sendo programados com regras bem definidas e claras possibilitando que não haja dúvidas, principalmente em jogos não-eletrônicos, permitindo que o mesmo não seja interrompido seguindo as regras. Em um jogo comercial, as regras são programas para não obter equívocos, já em jogos não-eletrônicos tendem a ocorrer erros, pois não há programação para manter as regras, podendo ser alteradas durante o jogo. Em um jogo é preciso de regras que utilizamos e um meio para pode jogar, por exemplo em um computador.
2-Resultado variável e quantificável: Para um bom funcionamento de um jogo temos de obter diferentes resultados que sejam simples e também deve depender da habilidade do jogador. Nos jogos - como por exemplo em jogos infantis - o resultado não é escolhido, é criado através das habilidades do jogador como em “tic-tac-toe” em que o torna interessante por mostrar ao jogador escolhas desafiadoras para ter um resultado que nunca se sabe como acaba. Alguns jogos também disponibilizam recursos para um resultado variável, como podendo favorecer jogadores de menor habilidade, como no jogo Mário Kart, em que o último corredor pode conseguir recursos para subir de posições.
3-Valorização do resultado: Em um jogo, o resultado disponibiliza ao jogador conquistas e pontuações de acordo com seus feitos. Alguns dos resultados podem ser mais vantajosos ou melhores do que outros, assim podendo criar um jogo desafiador e até mesmo conflitos. Normalmente, as melhores conquistas e pontuações são obtidas por meios mais difíceis que os casuais, tendo como consequência quanto mais difícil a sua "quest" maior será a recompensa, assim tornando o jogo mais desafiador ao player.
4-Esforço do jogador: A progressão do jogo ocorre de acordo com as tomadas de decisões que o jogador tem. A cada rodada de decisões, o jogo é afetado tanto no estado em que este está tanto quanto no resultado final. De acordo com os esforços para se obter conquistas, o jogador acaba se tornando o responsável pelo resultado total do jogo.
5-Ligação do jogador ao resultado: O apego do jogador ao resultado depende do quanto for importante o resultado a este, em que se lhe for favorável ele se esforce para conseguir o seu objetivo. No jogo, pelo resultado, pode ocorrer uma variação emocional, em que ao conseguir seus objetivos o jogador fica em estado de euforia e felicidade, mas ao falhar cai em profundo desânimo.
6-Consequências negociáveis: todos os jogos têm algumas consequências, porém, em jogos eletrônicos estas tornam-se menos ofensivas se comparadas às da vida real. O autor demonstra a ideia de que jogos digitais não proporcionam perigos ao jogador, diferente de lutas e jogos com armas, em que há risco de vida, lesões e consequências não negociáveis.
Deste modo, os seis recursos do jogo são necessários e suficientes para que algo seja considerado como tal, o que significaria que todos os jogos possuem esses recursos e que tê-los é suficiente para sua criação. Embora possamos imaginar vários outros fenômenos que compartilham apenas alguns desses traços e alguns outros, a alegação aqui é que esse cruzamento específico é exclusivamente produtivo, permitindo a enorme variação e criatividade que estamos presenciando nos jogos.
